31 de ago. de 2011

Diga que me adora

"Entre por esta porta, agora e diga que me adora você tem meia hora pra mudar a minha vida...". O caminho era o mesmo de todos os dias, a música batida, já ouvi e re-ouvi milhares de vezes. Mas, dessa vez quando A Calcanhoto cantou aquele pedaço eu lembrei de você. Não tinha porta alguma, porém naquele instante era como se você caminhasse do outro lado da avenida, displicentemente, com um sorriso no rosto, como você sabe muito bem fazer. Segundos depois, não existia nem o sorriso, nem você e eu fui obrigado a dar mais um passo, a continuar o caminho de todos os dias. Mas, com uma vontade diferente, que você simplesmente aparecesse em carne, osso e coração dizendo que me adora. Apesar de saber que você jamais faria isso, no máximo apareceria, ficaria em algum canto me olhando até que eu fosse falar com você, porque eu iria, e depois que eu falasse um "eu te adoro", você soltaria um "eu também", e, só eu saberia que o seu "eu também" teria muito mais sentimento e verdade que muitos dos "eu te amo" que são ditos por aí. Mas talvez, tudo isso seja "o que o tempo leva".

23 de ago. de 2011

Maturidade?

Eu poderia ter lhe destruído com uma palavra. Duas no máximo. Mas, a frase foi interrompida antes da bomba atingir o seu peito. Amargo. Não engoli o resto da frase, não estou com nenhum sapo entalado na garganta. Silenciei e tudo o que poderia lhe desestabilizar se desfez.

No fundo eu ainda não entendo como existem pessoas que são quase exclusivamente amargas, estúpidas, mal humoradas. Que pena, mas provavelmente ela não saiba o que é rir de uma piada sem um pingo de graça, ou, fazer a piada sem graça. Pior de tudo, não deve nem rir de si mesmo. Eu sei. Eu rio, eu conto piada sem graça e falo muita besteira nas horas certas e nas erradas também. Melhor de tudo quase sempre o alvo de tudo isso sou eu mesmo.

Tanto que estava mais uma vez tirando uma comigo mesmo. Todos riram. Menos a dona da autoconfiança, autossuficiência, seriedade. Eu não lembro as suas palavras, é que só tenho guardado comigo o que tem serventia, no entanto, pela resposta que pensei em retribuir não deve ter sido coisa boa.

No momento, só lamento que essa criatura, como tantas outras, não conheça algo como senso de humor, simpatia, loucura. Espero que esses seres nublados descubram rapidamente como ser feliz. Sabendo é claro que felicidade está além do saldo na conta bancária, ou, no limite do cartão de crédito.

Mas o que me deixou surpreso e ainda mais feliz, porque não seria uma resposta mal-amarga da dona fulana que estragaria meu humor, foi o fato de eu ter segurado a contra resposta bem da grosseira. Até mesmo porque costumava soltar essas e outras respostas que não foram das mais doces sem pensar duas vezes. E, eu costumava ser ótimo em destruir qualquer um apenas com meia dúzia de palavras. No entanto, devo ter mudado. Será que é isso que chamam maturidade?

11 de ago. de 2011

Em dias de chuva também visto vermelho, coloco meu bloco na rua, ouço rock and roll, sambo até meus pés se desfazerem na água, canto um blues ou um funk, dou bom dia ao padeiro, vejo uma rosa nascer, sorrio, choro, sobrevivo aos dias de chuva, como aos de sol, eles são sempre os mesmos quem muda sou eu. 

8 de ago. de 2011

O futuro começa agora


Hoje é o primeiro dia do resto da sua vida... 

Talvez motivado pelo fim de uma dessas séries que acompanhamos por meses e nos sentimos profundo conhecedores dos personagens, seus sentimentos, suas vidas. Além de nos identificarmos com algum em especial, quem nunca se identificou com um personagem qualquer a ponto de pensar “merda, não faz isso eu já fiz a mesma coisa e não dá certo. Eu não acredito que VOCÊ (ou seria um quase-eu?) vai fazer isso também”. Bem como, pelo final de um filme assistido na noite anterior e que nos últimos minutos trazia a indefectível passagem de dez anos depois. Comecei a pensar como e onde estaria daqui a dez anos? Mais do que isso, onde estaremos, como estarão meus amigos e as pessoas próximas a mim?
Existem coisas para as quais não precisamos ser um grande astrólogo, quiromancista ou babalorixá pra adivinhar. Ao menos que o destino pregue uma peça daquelas e nos faça engolir todas as palavras, dá pra arriscar um pouco e tentar adivinhar mais ou menos o que vai acontecendo. No entanto há outras que ninguém pode prever, tudo se torna uma sucessão de acontecimentos que culminam em algum lugar, no topo do mundo ou num precipício, a vida é uma dessas, ninguém, ninguém mesmo, poderá dizer o que vai acontecer daqui a um ano com plena certeza, quanto mais daqui a dez. Podemos arriscar e alguns palpites se confirmarem lá na frente, mas  certeza não está presente nesse arriscado jogo, a vida.
Assim, levado pelos meus pensamentos e por aquilo que vejo hoje posso apenas arriscar meus palpites. Por exemplo, acho que daqui a dez anos M., uma grande amiga, estará casada, será uma típica mãe de família, com dois ou três filhos pra cuidar, um marido que ama e ás vezes odeia também, e ainda, terá seus alunos, pois nunca conseguirá abandona-los.  Acho que F. continuará solteiro e feliz, isso quando não estiver deprimido, mas sempre em busca sempre de um de um belo garotão pra dizer: “dessa vez acho que acertei”, mas que logo verá que é mais um dos seus (grandes) enganos.  V. continuará independente, sem filhos, sem o desejo de tê-los e sem remorso por isso; não estará casada, mas com certeza estará com alguém que a ame, muito provavelmente o mesmo cara de agora e de anos, talvez completando bodas de alguma coisa, mais vivendo como um casal recentíssimo. C. deve estar em um belo emprego, com uma bela casa, família, esposa, filhos e cachorro, afinal, alguém deve continuar o ciclo do qual é resultado. G. deve continuar solteira, depois de algumas separações dolorosas, e sempre em busca do amor. Também tem P. que provavelmente estará muito bem sucedida na carreira, solteira, sem filhos, e mesmo depois dos trinta sem desejar qualquer casamento ou alguém que dependa dela, apesar de chorar enrolada no coberto assistindo aos DVDs do Sex and the city.   A., N., L., V., inconstantes, imprevisíveis, ou menos próximos, não dá pra arriscar muita coisa, mas talvez vivam todas as fases que cada um dos anteriores viveu individualmente, fazer o quê, tem gente que consegue ser uma “metamorfose ambulante” ao longo dos anos. 
E eu? Impossível prever seria a resposta que me acalmaria agora. Mas a primeira coisa que senti foi medo. Medo de não ter dez anos depois, ou de fazer desses anos uma grande perda de tempo. Será que estarei bem sucedido profissionalmente? Será que terei feitos as viagens, os cursos, as festas que pretendo? Solteiro, casado, enrolado, enrolado num caso complicadíssimo? Será que estarei feliz? 

Pergunta apavorante. (Aqui fica o registro que das linhas anteriores às que se seguem houve um razoável intervalo de tempo). O medo do que fazer com a minha vida me fez pensar e repensar. E sempre chegar a uma única conclusão: tudo o que acontecer daqui a dez anos será o resultado do que vivi nesses vinte e poucos anos mais a década que viverei daqui pra frente. É assim sempre, vida real é um dia após o outro. O que fazemos hoje pode determinar a nossa felicidade, amanhã, no ano que vem, daqui a dez, trinta, cinquenta anos. Felizmente, eu acho, ao contrário das séries e filmes que assistimos nós não podemos piscar os olhos e alguém simplesmente determinar “Dez anos depois...”. Sempre haverá um hoje para ser vivido sendo ele bom ou ruim, às vezes, péssimo. 


4 de ago. de 2011

a tal felicidade

Não tinha forma, cor, cheiro, era assustador. 
Era algo estranho... uma coisa nova.
Dali em diante tudo seria mais leve, 
mais colorido, mais vivo.
Pela primeira vez não teve medo
segurou a felicidade em suas mãos
todos os dedos estão impregnados 
com aquilo que era tão único e inédito,
ao menos para ele.