26 de nov. de 2010

O valor inestimável de alguns gestos

Para a S. e o A.

Poucas vezes em nossas vidas as palavras tornam-se desnecessária, no entanto sempre que isso acontece alguns gestos pequenos e corriqueiros, ganham uma dimensão extraordinária e uma importância sem igual.

Assim não é necessário que seja dito: “eu estou com você”, “eu acredito em você”, “vai dar tudo certo”, “tá tudo bem”, “tá perdoado”, ou, “eu te amo”; basta um olhar, um abraço, um sorriso, ou um simples aceno; basta ir, basta estar ou se fazer presente.

São à partir desses pequenos gestos, que passamos a acreditar em coisas absurdamente maiores, como a amizade, os verdadeiros sentimentos e o amor. Porque através dos gestos o que foi dito é mais do que provado e o que ainda não foi, de certa maneira, passa a ser.

Só não é possível definir se o melhor é ser surpreendido por esses pequenos gestos que se tornarão tão importantes para nós, ou então, ver que surpreendemos alguém especial com uma coisa pequenina e simples.


P.S.: e a vida, ou a parte que importa dela, está repleta desses pequenos gestos. Seja a presença tão gratificante e acalentadora que me levou ás lágrimas num momento tão importante e de nervosismo e ansiedade; ou um simples sorriso e um aceno trocado rapidamente ao cruzar com quem cheguei a pensar que nunca mais olharia na minha cara, porque fui um tanto estabanado e (mais uma vez) meti os pés pelas mãos. Obrigado! A vida, as criaturas especiais que me surpreendem sempre, e especialmente as duas fantásticas pessoas motivo de eu ter pensado e escrito sobre isso: S. e A.

22 de nov. de 2010

Para levar para uma ilha deserta...

(... ou simplesmente, pela vida afora)

Nunca tive uma resposta pronta para aquela pergunta, que já tive que responder mais de uma vez, “que livro você levaria para uma ilha deserta?” Claro que sempre me vinha um título a mente, talvez um da Clarice (Lispector) ou do Caio (F. Abreu), simplesmente porque são os meus favoritos e também porque me encanto e me encontro em suas palavras, às vezes pensava em Pessoa com seus vários heterônimos, ou ainda Neruda. E ainda tinha aqueles que sempre quis ler, e ainda quero, mas que a correria do dia-a-dia me impede: Dostoievski, Joyce, Rilke, As mil e uma noites ou a Odisséia.

Mas ao ter contato recentemente com a obra de Sophia de Mello Breyner Andresen, poeta portuguesa da segunda metade do século XX, teve um momento que eu parei e pensei: “esse é um livro pra se levar para uma ilha deserta”. Não só pela forte presença do mar na poesia de Sophia, mas, sobretudo, pela beleza e completude que ela, poeta e “maga do sentimento pânico e harmonioso do mundo”, dá às coisas simples: como uma janela aberta com vista para a praia e uma maçã vermelha poisada sobre uma mesa, ou, a visão de uma ilha grega.

Abaixo dois poemas, que entre tantos outros são meus favoritos dentro da lírica de Sophia.


Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo.

Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa.


AUSÊNCIA

Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua

Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.



INSCRIÇÃO

Quando eu morrer voltarei para buscar
os instantes que não vivi junto do mar


Poemas retirados de: Andresen, Sophia de Mello Breyner. Poemas escolhidos. Org. Vilma Arêas. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.



17 de nov. de 2010

Das dores que são nossas - de todos nós

Ao som de Elis - Retrato em branco e preto

O quanto de dor podemos suportar? Será que existe alguma cota de sofrimento pré-destinada à cada um de nós? E, será que as dores realmente acabam? Ou apenas diminuem, cicatrizam, ou, passam a ser tão constantes que acabamos esquecendo delas, ao menos até a próxima aparecer?

Provavelmente ninguém nunca expressará com exatidão o tamanho de uma dor. E elas nunca são iguais. Mas o que é pior: perder ou abrir mão? Um traição da pessoa que amamos ou do melhor amigo? Ser traído ou ser deixado? Dizer ou ouvir – não te amo mais. Perder a mãe, o irmão ou um filho? Partir ou ver alguém partindo? Não há resposta certa, não há unanimidade. Para cada pessoa essas diferentes formas de sofrimento serão encaradas de uma maneira distinta. No entanto, não podemos negar que a imensa maioria das dores e sofrimentos que enfrentamos e enfrentaremos pela vida, estão diretamente relacionados com o que costumamos chamar amor. E não raras são as vezes na qual aquilo que um dia foi a razão de nossa maior alegria, tenha se tornado também o motivo ou condutor da nossa tristeza.

O mais incrível é que podemos já ter sofrido o bastante, e aprendido com o passado, mas provavelmente uma triste surpresa nos fará sentir angústia, medo, melancolia, dor. E voltaremos a nos entregar mais uma vez ao estado letárgico e em carne viva, que já havíamos enfrentado, superado e jurado que não deixaríamos que ele nos tomasse novamente.

Ouvi uma vez de uma pessoa que não chegou a ser amigo, mas ficou próximo, algo parecido com: “as dores são como as águas e as nossas vidas são cachoeiras, logo as águas (dores) nunca são as mesmas, mas a cachoeira ( a vida) fica sempre igual quando elas (águas-dores) passam”. Se não era isso, era quase isso. E depois de alguns anos talvez tenha entendido o que ele queria dizer.

Cada um de nós temos um jeito particular de sofrer, tem aqueles que sofrem e nempercebemos, pois continuam exatamente iguais, pelo menos aparentemente, outros não fazem o menor esforço para esconder nada e saem chorando onde quer que seja; há os que sofrem um dia e depois de um porre e de uma ressaca já estão prontos pra outra e também aqueles que passam meses definhando e remoendo o sofrimento. Eu particularmente sou daqueles que sofrem tudo o que têm pra sofrer de uma vez só, tem que ser tudo intensamente, até isso, tenho que chegar ao fundo do poço para poder me reerguer, no entanto não consigo passar anos sofrendo à toa, a dor vem eu sofro, choro, grito; até que chegue o momento de voltar a viver, sou daqueles que se fecham e que apesar de muitos perceberem que algo está errado, pouquíssimos saberão o que há afinal, e mais raros são os que ouvirão lamentações e choramingos; “a dor é minha e eu me aguento pode crer” eu sempre entendi essa frase, ou talvez, tenha sido desde sempre obrigado a assimilá-la.

Felizmente não sou masoquista, nem vivo pensando em tristeza, sofrimento, dor, o motivo que me fez parar pra pensar sobre esses sentimentos que estão tão presentes em nossas vidas e que muitas vezes fazemos questão de escondê-los ou negá-los, é que no último feriado assisti a Como Esquecer, filme nacional, um bom filme aliás, e que tem como tema o sofrimento por motivos diversos de seus personagens centrais. E muitos de nós já passamos por problemas iguais ou semelhantes. Talvez por isso a grande maiorias das atitudes (algumas) desesperadas das personagens reconhecemos por já termos feito a mesmíssima coisa em algum momento, ou então, conhecemos alguém que já fez exatamente igual.

E, apesar de o tema do filme não ser dos mais leves e adocicados, saí psicologicamente bem, e até mesmo feliz, primeiro por ter gostado do filme; segundo por ver que o ser-humano é (com algumas restrições) tudo igual e que todos nós sofremos, de maneiras diferentes, é claro, e isso não é tão ruim quanto parece; e terceiro por ver que já passei pela fase mais hard do meu sofrimento, pelo menos do último.


P.S. 1. Aos que esperavam palavras de alegria, me desculpem, mas é que me deu uma vontade de falar de tristeza e sofrimento, talvez isso seja mais apropriado para um dia cinza de inverno. No entanto, quando pensei em tudo isso, e quando decidi sentar pra escrever, São Paulo estava com cara de inverno e juro que eu estava feliz, muito feliz.

2. A bela música acima é a que abre o filme.


14 de nov. de 2010

Do adeus, que não ouvi


Eu te esperei a tarde inteira,

pelas tardes de todos esses anos.

E cheguei a jurar para mim mesmo que não sofreria mais

com a tua ausência.

E, é estranho, pensar que entre nós

existe apenas algo que é menos da metade

daquilo que eu desconheço.

Eu já arrumei gavetas, papéis, cartas e lembranças

Eu revirei o meu juízo

Tentado encontrar o momento em que tudo se perdeu.

Por que você se foi?

Por que eu ainda te espero?

Eu me perdi em mim

Tentando encontrar você

Eu te perdi por te querer

E continuo te querendo

Apesar de tudo o que nem chegou a acontecer.

9 de nov. de 2010

Recomeço



"...
E, é como se eu despertasse de um sonho
Que não me deixou viver
E a vida explodisse em meu peito

Com as cores que eu não sonhei

E é como se eu descobrisse que a força

Esteve o tempo todo em mim

E é como se então de repente eu chegasse

Ao fundo do fim

De volta ao começo"

( De volta ao começo - Gonzaguinha)

5 de nov. de 2010

Porque as tempestades não são apenas ruins.

Ao som da trilha da semana: Cassandra Wilson - Harvest moon.


Talvez seja um sinal de inteligência ou maturidade perceber que as tempestades prenunciam algo melhor no futuro. Pois, as noites por exemplo, sempre são mais belas e agradáveis, e o céu sempre está mais limpo depois daquelas chuvas assustadoras. Mas, como estamos muito preocupados pedindo aos céus para que a chuva pare logo não percebemos que sem ela a noite não teria ficado tão bela...

2 de nov. de 2010

...Sendo feliz, e sem medo.




Já entendi e acertei que tudo o que é simples, ou fácil, passou longe de mim. É preciso que agora os outros também entendam isso. Tudo é muito, muito difícil, complexo, demorado, confuso, e divertido, prazeroso, intenso.

Aprendi a deixar de sofrer por bobagem, a dizer o que penso e o quero, sabendo que depois de abrir a boca as consequências podem ser as piores possíveis, mas até agora sobrevivi a todas, e ainda não me arrependi. Já deixe algumas coisas pra depois, já calei por vergonha, já escondi por temor, mas agora, acho que é um sinal de maturidade, estou falando, pedindo, arriscando, dando a cara à tapa, literalmente (e ainda não levei nenhum). Talvez uns tapinhas, mas exclusivamente no seu sentido figurado.

É sempre melhor ter certeza(s), saber com quem e/ou o quê estamos lidando, cansei de alimentar dúvidas e esperanças vãs. Antes uma “decepçãozinha” aqui outra ali, que um sofrimento maior lá na frente. E, eu sei o que é sofrer por um longo tempo, sendo que bastava uma conversinha de cinco minutos na esquina de casa para que tudo se resolvesse. No fundo cansei de esperar e de viver me perguntando: e se???

Ninguém acerta sempre, ninguém é perfeito e por que justo eu, que nunca quis isso pra mim, tenho que ser? Para ser feliz, se há segredo, talvez seja não ter medo, nem de ser feliz nem de quebrar a cara um pouquinho.

Inaugurei uma nova fase, dessas que sempre inventamos, quando desistimos do papel de vítima da nossa própria vida. Em parte incentivado pelos amigos (inclusive, os que estão geograficamente longe), em outra movido por uma insatisfação de quem cansou de esperar que algo acontecesse, e de quem saiu da cômoda zona de conforto de esperar que a vida e o destino fizessem a sua parte; decidi dar uma grande ajuda a eles, pra que esperar que tudo conspirasse a favor e não fazer nada, é tão melhor fazer o sentido contrário, primeiro agir e só depois contar com a ajuda da vida, do destino, ou do que quer que seja.

Agora cada dia é vivido intensamente, a beira de um abismo, sempre. Agradecendo pelo que tenho, pelos que estão junto comigo nesse caminho, deixando a porta aberta para os que quiserem entrar ou sair, não importa. Mas sempre indo em busca do que eu quero, sem lamentações.

O tempo voa, e a vida é só uma, agora se errei peço desculpa e sigo em frente, estou com pressa e não posso mais viver arrependido, ou sofrendo pelos cantos. Burradas? opa, aos montes, mas sem elas não teríamos nada pra rir numa sexta a noite na mesa do bar com os amigos.

E, como sentenciou Clarice: a vida não é de se brincar porque um belo dia se morre.