de
uma hora pra outra a casa ficou imensa, vazia, deserta. é ironicamente doloroso
pensar que você com seu pequenino corpo negro preenchia tudo, estava em cada
canto, marcou cada canto, com alegria e carinho. quando você chegou era tão
pequenina cabia na palma de uma única mão, e de mansinho com delicadeza e
jeitinho foi conquistando tudo e virou o centro das atenções. mas agora você se
foi o vazio é imenso a dor também. dói acordar e não ter você perdida no meio
da coberta ou escondida embaixo da mesa. dói não te ter por perto, para cima e
pra baixo e na hora de assistir TV. é insuportável os tapetes todos no lugar,
não ter bolas brinquedos e sacolas de supermercado espalhadas pela casa, nem
você tentando se esconder em bolsas e guarda-roupas. ou ainda, nas suas poses mais blasés ou de
criança brincalhona. é angustiante pensar que você não estará mais aqui pra se
sentar bem na frente da tela do computador ou pra roer os livros do Dickens ou
da J. Butler. menina, curica, amendoim, coração. você era mais especial por não
ser gente. esse tipo que se diz humano, mas é capaz das piores baixarias, tanto
quanto envenenar um ser inocente e indefeso. um bebê-meio-anjo e com quatro
patas. seus olhinhos estralados iluminaram essa casa como há muito não era
possível. você sabia que podia tudo e mesmo assim nunca abusou disso, nunca foi
além da conta. eu acredito que no céu haja bibliotecas, e livros e que a gente
possa ler, como disse Adília. e também acredito que haja animais e sei que você
está lá nesse instante. ah, como tudo poderia ser diferente e você estaria
brincando ou dormindo agora aqui na cama ao lado. mas ao invés de vizinhos eu
tenho um bando de filhos-da-puta, Covarde Assassinos que não conhecem e nem conhecerão
o Amor ou um sentimento Verdadeiro.
Graxinha,
pra sempre “a coisa mais linda da casa”.
Com
lágrimas nos olhos e tentando achar forças pra sorrir aquele sorriso que você
arrancava com a maior facilidade!