Na primeira vez que li Adília, estranhei. Na segunda me interessei. Na terceira me encontrei. E vi que ali tinha muito o que descobrir.... Porque Adília é foda!
"Nunca fodi. Mas não me importo de
morrer sem ter fodido. Apaixonei-me. E ninguém por quem eu me tenha apaixonado
se apaixonou por mim. Acho horrível uma pessoa foder sem estar apaixonada. Acho
horrível uma pessoa nunca ter se apaixonado. Acho que é o pior que pode
acontecer a uma pessoa. Não é nunca ninguém ter se apaixonado por nós. É tão
horrível alguém apaixonar-se por nós e nós não podermos corresponder. As
paixões desencontradas são como as cabeças trocadas.
*
Posso morrer porque amei e porque
fui amada. Gostei de homens, de mulheres, de velhas (de velhos não), de bebés,
de bichos, de plantas, de casas, de filmes, de concertos, de quadros, de
teorias, de jogos, de pastéis de nata, de jesuítas, de russos, de hamburguers,
de Paris e de Londres. Nunca fui a Nova York e gostava de ir, mas não me
importo de morrer sem ter ido. Também nunca tive um orgasmo, mas posso morrer
sem nunca ter tido um orgasmo. Não me arrependo de nada. É claro que Nova York
não se compara com um orgasmo. Um orgasmo é muito mais importante.
*
Para foder, nestes tempos que
correm, parece que é preciso um escafandro. As pessoas pensam muito em foder. E
sofrem muito quando não fodem. Quem não pensa em foder está fodido. Mas as
pessoas fodem e não são felizes.
*
O deserto está perto. Sempre. Mas
o deserto é fértil.
*
Pateta, patética, peripatética:
eu."
Adília Lopes In: Irmã
Barata, Irmã Batata (2000).