26 de dez. de 2010

Um conto (ou desejo) de Natal

Era véspera de Natal, noite na qual passaria sozinho, entre goles de vinho, uma voz doída no rádio e perdido em lembranças e sonhos que se perderam, imaginando tudo o que poderia ter sido e não foi.

Não havia planos para aquela noite, não havia esperanças para aqueles momentos. A primeira vez na vida em que estava só na véspera de Natal por uma escolha própria. Claro, que tive que dar desculpas e mais desculpas até que amigos e a minha família começassem a fingir que entendiam. Recusei convites, promessas, chantagens, mas estava decidido. Era assim que queria ficar.

Na verdade não era.

Mas, entre os telefonemas que recebi nos dias anteriores e naquele dia nenhum era de quem me tirava o sono, nenhum e-mail, nem mesmo um sinal de fumaça.

Enquanto o mundo lá fora explodia de alegria, e eu não sei até hoje se verdadeira, em meu mundo tudo continuava igual às outras noites daquele ano que custava a acabar.

Pouco depois das dez da noite quando tocaram a campainha, relutei um pouco em abrir, afinal na certa seria alguém que viera teimar em me tirar de casa.

Mas, quando enfim decidi abrir a porta, reconheci aqueles olhar meigo e vago, me olhando entre a insegurança e a timidez.

O tempo naquele momento foi suspenso. A eternidade durou aqueles exatos segundos entre o abrir a portar e vê-lo sorrindo.

- posso entrar?

- eu não te esperava.

- eu não sabia se teria coragem de vir. Mas vim assim mesmo, porque era em você que estava o meu pensamento e é só com você que eu quero passar essa noite. E me matava imaginar você aqui só ou em qualquer outro lugar longe mim.

- só essa noite?...

- essa noite, a de ontem, as das semanas que ficamos sem nos ver, o dia de amanhã, o ano novo, o carnaval, a páscoa... não me deixa só. Seja o meu Natal, o meu dezembro, como no filme, o meu Ano novo, dois mil e nove, dez, onze... Você sabe o pouco que eu posso te oferecer, sou a pessoa mais complicada, enrolada, e sem jeito nesse mundo, mas... nunca quis te ferir.

Não consegui dizer nada, apenas abri caminho:

- e se você se arrepender amanhã.

- Eu não vou me arrepender mais do que já me arrependi por que tudo o que deixei de fazer até agora

...

- eu não quero sofrer mais com essa história, eu não sei o que pode acontecer amanhã, mas, como eu torci por você vir,

- eu é que te peço não me deixa te fazer sofrer, não me deixa sofrer, não me deixa só pelo menos pelos próximos cem anos... Eu trouxe vinho pra brindar, mas antes eu queria te falar uma coisa...

Não esperava o que viria depois, aquela bala no peito, que me deixou fora do ar por outros segundos, só me lembro daqueles olhos negros sobre mim e de ouvir:

- eu te amo.

6 comentários:

  1. Bonito Carlos, nada como esperar que um sonho de amor se realize. Torcerei por você, quem sabe no ano novo isso não aconteça........

    Abs

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  2. Isso é real ou fictício? Fiquei perdido véio.

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  3. Belo presente de natal!

    Rs...
    É ótimo quando as pessoas não se esquecem de nos amar de volta né?
    Espero q de fato tenha acontecido...

    Beijo...

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  4. realidade ou ilusão???
    mas se eu contar perde toda a graça.
    só digo que toda ficção tem os dois pés na realidade, só é um pouco mais bela e enfeitada. porém nem sempre é 100% verídica ou confiável. Ás vezes ela nasce de um simples sonho, desejo, ou pensamento (ai, acho que acabei respondendo, mas não vou apagar) acreditem no que preferir, qualquer uma das duas me lisonjeia.

    um beijo a todos.

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