21 de abr. de 2014


Na primeira vez que li Adília, estranhei. Na segunda me interessei. Na terceira me encontrei. E vi que ali tinha muito o que descobrir.... Porque Adília é foda!


"Nunca fodi. Mas não me importo de morrer sem ter fodido. Apaixonei-me. E ninguém por quem eu me tenha apaixonado se apaixonou por mim. Acho horrível uma pessoa foder sem estar apaixonada. Acho horrível uma pessoa nunca ter se apaixonado. Acho que é o pior que pode acontecer a uma pessoa. Não é nunca ninguém ter se apaixonado por nós. É tão horrível alguém apaixonar-se por nós e nós não podermos corresponder. As paixões desencontradas são como as cabeças trocadas.
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Posso morrer porque amei e porque fui amada. Gostei de homens, de mulheres, de velhas (de velhos não), de bebés, de bichos, de plantas, de casas, de filmes, de concertos, de quadros, de teorias, de jogos, de pastéis de nata, de jesuítas, de russos, de hamburguers, de Paris e de Londres.  Nunca fui a Nova York e gostava de ir, mas não me importo de morrer sem ter ido. Também nunca tive um orgasmo, mas posso morrer sem nunca ter tido um orgasmo. Não me arrependo de nada. É claro que Nova York não se compara com um orgasmo. Um orgasmo é muito mais importante.
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Para foder, nestes tempos que correm, parece que é preciso um escafandro. As pessoas pensam muito em foder. E sofrem muito quando não fodem. Quem não pensa em foder está fodido. Mas as pessoas fodem e não são felizes.
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O deserto está perto. Sempre. Mas o deserto é fértil.
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Pateta, patética, peripatética: eu."


Adília Lopes In: Irmã Barata, Irmã Batata (2000).  

4 comentários:

  1. Demais! Levando para compartilhar no Facebook!

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  2. Como é que eu faço para comprar esse livro, Carlos?

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  3. Olá Suzana,
    então, os livros da Adília são meio difíceis de serem encontrados. No Brasil foi publicada uma Antologia pela 7Letras e Cosac Naify. Em Portugal, pelo site da fnac ou outra livraria de lá, você talvez consiga. E ainda tem duas reuniões de poesia dela, que até agora só foram lançadas em Portugal, a primeira tem o título de Obra e a última de Dobra.
    Na verdade, nem eu tenho esse livro, tenho a antologia e algumas cópias que consegui com a amigos ou na internet ou em dissertações sobre o trabalho dela.

    Abraço.

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  4. Muito prazer Adília Lopes, alías um prazer imenso, quase orgástico com este post...depois de ler aqui fui procurar no tio google, e é uma poeta fascinante, mas o que mais me tocou, me chamou para dentro dela, foi a liberdade desmedida que ela coloca em tudo que escreve, ou pelo menos no pouco que pude ler, e este post é um aperitivo e tanto. Obrigado Carlos por me apresentar tão ilustre poeta.
    ps. Carinho respeito e abraço.

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